Durante o período carnavalesco fiquei trabalhando na tentativa de produzir os textos dos filmes para por no ar, finalmente, o site do Cinema de Arte, além de pesquisar vários filmes para a sua programação e colocar a leitura de revistas e jornais em dia. E me deparei, em uma das página do Segundo Caderno de O Globo, com a notícia da partida de Zózimo Bulbul, um dos maiores brasileiros que pude conhecer quando eu era ainda estudante de cinema da Cinemateca do MAM
Zózimo Bulbul foi uma das criaturas expoentes da cultura afro-brasileira. Um brasileiro. Chacrinha (1917–88) o chamava de o negro mais bonito do Brasil. Mas, a sua passagem por aqui ficou marcada por dois episódios: em 1969, ao fazer par romântico com Leila Diniz (1945–72) em Vidas em Conflito, a ditadura militar não admitiu o prosseguimento da novela da TV Excelsior (1963–70) e a proibiu. Típico da época. Em seguida, o estilista Dener (1937–78) o convidou para desfilar e ele se tornou o primeiro manequim de uma grande grife brasileira.
Zózimo nasceu em 1937 e começou a sua vida cultural no Centro Popular de Cultura da UNE e mais tarde chegou ao Cinema, estreando em 5 Vezes Favela (1962). Trabalhou alguns dos maiores cineastas do Brasil, como Carlos Diegues (Ganga Zumba, 63, Quilombo, 1984), Geraldo e Renato Santos Pereira (Grande Sertão: Veredas, 64), Nelson Pereira dos Santos (El Justicero) e Gláuber Rocha (Terra em Transe, 1967), Roberto Santos (O Homem Nu, 68), Walter Hugo Khoury (Palácio dos Anjos, 1970), Alfredo Stemheim (Pureza Proibida, 1974), Ruy Guerra (Veneno da Madrugada, 2004) e Joel Zito Araújo (As Filhas do Vento, 2005).
Ditadura e exílio
A fim de se preparar para se tornar diretor, realizou o curta A Alma no Olho (1974), aproveitando os negativos que sobram do filme Compasso de Espera, de Antunes Filho, no qual foi um dos atores centrais. Novamente a ditadura não gostou e, considerando a obra subversiva, o convocou para explicações. Fiz o filme sob as ordens do amigo e poeta Vinícius de Moraes, respondeu, deixando os censores sem mais perguntas.
Veja o curta A Alma no Olho, de Zózimo Bulbul.
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Na verdade, Zózimo era admirador do grupo Panteras Negras, dos EUA, que na década de 60 implantou uma revolta contra a violência da polícia e seria responsável pelo assassinato do líder Malcolm X (1925–65). Com a perseguição política, Zózimo foi morar nos EUA, onde fez amizade com pessoas de seu meio, entre eles, o cineasta Spike Lee.
Ao retornar ao Brasil continuou a sua luta, realizando o documentário Abolição (1988), de entrevistas com diversas personalidades do Brasil afro em uma homenagem ao centenário do fim da escravatura. Fundou, o Centro Afro de Carioca de Cinema, ali realizando um longa, 3 médias e 5 curtas-metragens. Também fez um curta para o governo do Senegal, Renascimento Africano, em comemoração aos 50 anos da independência do País. Em seu trabalho no Centro, conseguiu trazer filmes afros de diversos países e os exibiu em mostras e festivais. Logo depois, começou a sua luta para vencer um câncer no colo do intestino. Não foi derrotado pela doença, mas por um infarto, em 24 de janeiro último. Eis a minha lembrança desse grande brasileiro chamado Zózimo Bulbul.
Conheça o longa Abolição, de Zózimo Bulbul.
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